Hoje em dia se fala muito sobre a máxima: “Judeu é todo aquele nascido de mãe judia”, todavia duas faltas são cometidas enquanto se discute este assunto:
- Qual a fonte desta máxima?
- Qual o contexto histórico que provocou a necessidade e promoveu a elaboração e aplicação dela na prática no Mundo Judaico?
No primeiro século d.C., os romanos tinham subjugado aos judeus. Pesados impostos lhes eram estipulados e muitas outras formas de extorsão eram praticadas sem nenhum escrúpulo. Muitos judeus foram vendidos como escravos, muitas mulheres foram estupradas e ou se casaram com não-judeus, em algumas dezenas de anos o número de filhos bastardos de judias que foram forçadas pelos romanos ou pelas circunstâncias da vida superavam e muito o número de filhos judeus legítimos. Para os rabinos da época isto representou a extinção do Povo Judeu a curto prazo caso alguma medida relevante sobre este assunto dos bastardos não fosse tomada.
No Mundo Judaico de sempre, judeu sempre foi todo aquele nascido de pai judeu, sem se importar com a origem étnica da mãe (Gêneses 31:4 – 38:6-30 – 41:50 / Êxodo 4:18-26 / Rute 4:13-22 – dentre tantos outros exemplos, basta ler as extensas e numerosas genealogias bíblicas), os gentios por sua vez sempre contaram sua genealogia pela mãe (As Muitas Vozes 2020, página 251 – comentando Rut 1:8). Para resolver o problema da extinção iminente do Povo Judeu, os Sábios discutiram por vários dias e chegaram a seguinte conclusão:
“Este é o princípio geral: Quando um filho nasce a um servo, um estrangeiro, uma serva, ou uma estrangeira, ele é como a mãe. Não nos ocupamos do pai” (Mishnê Torá – Sefer Kedushá – Hilkhot Issurê Biá 15:4).
E a partir deste momento, sendo os judeus estrangeiros em terras alheias e escravos dos gentios foram enquadrados nas leis que regem aos estrangeiros e aos escravos nascendo a famosa máxima: “Judeu é todo aquele nascido de mãe judia”. Isto, para a lógica rabínica da época fez realmente um grande sentido uma vez que os rabinos são os guardiões do Povo Judeu e devem lutar pela sua sobrevivência a qualquer custo, porém, hoje em dia, quando temos de volta o Estado Judeu respeitado como judaico pelo mundo inteiro, onde não há perseguições em massa aos judeus, onde os judeus são amados e odiados como qualquer outra etnia e ou religião estranha do mundo, esta máxima perde sua força, sua lógica e sua necessidade, deixando de ser uma ferramenta de proteção à sobrevivência do Povo Judeu e passando a ser uma afronta à própria Torá SheBikhtav – a Torá escrita – e, conseqüentemente ao próprio Eterno, bendito seja o Seu Nome! Chas VeShalom!
Uma vez que o Eterno, bendito seja, nos concedeu a Terra Santa de volta, uma vez que estamos livres pelo mundo afora para vivermos abertamente e publicamente como judeus não há justificativa para ferir a Torá desta maneira, e sustentar a ministração de um “remédio” quando o “paciente” já foi curado do problema do qual estava se tratando não aumentará a sua saúde, antes, pelo contrário, fará com que o “remédio” agora se torne um “veneno”.
Portanto, não se deixem enganar: Judeu é todo aquele nascido de pai judeu, o resto é conversa fiada para tornar o bastardo legítimo e o legítimo bastardo, e sobre os que assim procedem está escrito:
“Ai dos que ao mal chamam bem, e ao bem mal; que fazem das trevas luz, e da luz trevas; e fazem do amargo doce, e do doce amargo!” (Isaías 5:20).
Shalom UL’Hitraot!!!
Por: Rabino Maorel Melo
Fonte: https://www.facebook.com/judeusdecaruaru/photos/pb.100063621818462.-2207520000./1431760910349417/?type=3
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